Resumo: O tema da violência vem adentrando as narrativas de trajetórias de vida e de luta das lideranças mulheres com quem me relacionei, e relaciono, nos diferentes locus de pesquisa etnográfica. Esse tema não era meu foco de pesquisa. Pesquisava sobre a forma como povos e comunidades tradicionais acessavam e geriam recursos fora do enquadramento da propriedade privada: as quebradeiras de coco babaçu do Médio Mearim e a comunidade quilombola de Conceição das Crioulas. Mas é impossível ignorar essas questões informadas por e formadoras de gramáticas de gênero, trabalhando com duas “comunidades” em que as lideranças mulheres tiveram e têm um papel simbólico tão significativo na memória do processo de luta e na construção das narrativas sobre identidade. Discuto como a violência adentra as narrativas de luta e conquista dessas mulheres, e suas comunidades, e como essa violência é exibida num tipo de performance política e ocultada em outra. Ser alvo de violência enquanto mulher é visto como algo que desqualifica a liderança mulher, algo que polui a trajetória da mesma, enquanto que ser alvo de violência enquanto liderança que luta pelos direitos de sua comunidade é valorizado e neste caso o gênero da vítima desaparece.
Palavras-chave: Narrativas; gênero; violência