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ISSN: 2359-0211

2014 - Mesa 6

Debatedor: Marcos Castro Carvalho (Doutorando - PPGAS/MN)



Conflito, Moralidade e Mobilidade no Pastoreio: sobre os cachorros que pegam criação
Jorge Luan Teixeira [1º ano do Doutorado]
Resumo: Assim como o gado bovino, caprino e ovino, os cachorros são personagens importantes no cotidiano sertanejo: guardam as casas, auxiliam os homens no pastoreio dos rebanhos e são indispensáveis na perseguição de alguns animais e na proteção dos seus donos nas atividades de caça. Mas o seu estatuto é mais ambivalente do que pode parecer à primeira vista: alguns deles também atacam a criação (ovinos e caprinos) de vizinhos. Por que ocorrem esses ataques? Se nem sempre se presencia o ataque ao rebanho, como os sertanejos identificam o(s) cachorro(s) e o(s) seu(s) dono(s)? Como os criadores lidam com esse problema? O ataque e os caminhos comumente encontrados para a resolução do problema deixam ver alguns elementos da moralidade sertaneja e das práticas de mobilidade e conhecimento dos agentes implicados, assim como permitem destacar o papel desempenhado pelos animais na constituição de territórios rurais e de uma comunidade moral. O artigo explora dados da pesquisa de campo do mestrado que não estiveram presentes na dissertação e dá prosseguimento a questões que venho discutindo desde então.
Palavras-chave: pastoreio; moralidade; mobilidade

Mai Waifu: relacionamentos "reais" com personagens "fictícias"
Vlad Schüler-Costa [2º ano do Mestrado]

Resumo: Com base em questões surgidas, porém não abordadas, em minha pesquisa de dissertação, pretendo discutir a existência de um fenômeno na comunidade otaku: os relacionamentos – “românticos” ou não – com personagens oriundas da ficção (primariamente quadrinhos e desenhos animados japoneses). Tais personagens, embora não sejam propriamente categorizadas como “humanas” ou até mesmo “reais”, ainda assim gozam de certa ambiguidade em relação à sua existência. A partir de autores como Alfred Gell, Bruno Latour e Hiroki Azuma, pretendo analisar o estatuto da existência de tais seres e, portanto, a dimensão ambivalente entre “realidade” e “ficção” que elas representam no pensamento otaku.
Palavras-chave: não-humanos; agência; cultura pop japonesa.


Fazer coisas, fazer deuses e fazer pessoas: reflexões em torno da noção de fazer no candomblé
Lucas de Mendonça Marques [1º ano do Mestrado]

Resumo: Neste trabalho pretendo, a partir de uma etnografia realizada em uma oficina de ferramentaria de orixás na Bahia, abordar a questão das técnicas e dos objetos rituais no contexto religioso afro-brasileiro. Mais especificamente, na chamada ferramentaria de santo – processo técnico de construção, produção e intervenção no metal, visando instaurar uma sacralidade aos objetos que se tornam (ou são fabricados para) entidades divinatórias das religiões afro-brasileiras, conhecidas no candomblé Ketu como Orixás. Partindo de uma visão processual da produção das ferramentas, o trabalho tem por objetivo analisar de que modo “técnica” e “ontologia” não podem ser pensadas em separado no contexto religioso afro-brasileiro, onde o processo de produção de uma ferramenta acompanha o processo de produção dos deuses e da própria pessoa no candomblé. Por fim, busca inspiração numa teoria nativa de criação , produção e transformação técnica (em sua, em torno da noção de fazer) para realizar um diálogo com a antropologia ecológica de Tim Ingold, a fim de lidar com os diferentes acontecimentos acionados na emergência das coisas (neste caso, nos limiares do ferro) e, principalmente, com a descrição desses acontecimentos.
Palavras-chave: Ferramentaria-de-orixá; técnica; candomblé