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ISSN: 2359-0211

2014 - Mesa 3

Debatedores: Waleska de Araújo Aureliano (UERJ) e Carlos Guilherme do Valle (UFRN)



Agenesia Humana: alguns percursos médico-científicos em casos de intersexualidade
Barbara Gomes Pires  [2º ano do Mestrado]
ResumoAo acompanhar um grupo de profissionais de saúde de várias especialidades no atendimento de um paciente com hiperplasia adrenal congênita, uma das condições que compõem os casos de genitália externa ambígua, entendidos clinicamente na medida em que destoam do que se espera de um sexo funcional e normal, desenvolvo aqui alguns dos desdobramentos das práticas e representações médico-científicas ao lidarem com casos de intersexualidade. Concomitantemente, busco abordar criticamente os consensos científicos da área médica referentes aos manejos clínicos e cirúrgicos, além de seus limites éticos, dos casos de pacientes intersexuais e como esses manuais de diagnóstico e conduta esbarram a todo momento em concepções socioculturais generificadas do que entende-se de homens e mulheres.
Palavras-chave: Intersexualidade; Biomedicalização; Produção de Conhecimento.

O que é Etnopsiquiatria? Sobre a diferença entre médicos e feiticeiros
Maurício Siqueira Filho [1º ano do Mestrado]

Resumo: O ensaio por vir possui um duplo propósito. O primeiro consiste em realizar uma introdução às práticas clínicas e às ferramentas conceituais produzidas durante as últimas duas décadas pelos profissionais que compõem o Centre George Devereux (instituição de atendimento etnopsiquiátrico a famílias migrantes situada em París-FR). O segundo, mais arriscado e menos preciso, consiste em esboçar as principais diferenças conceituais e operacionais dessa experiência clínica em relação aos modelos hegemônicos subjacentes à tradição fisicalista constitutiva da psiquiatria moderna e ao familiarismo individualista endêmicamente presente na doxa psicanalítica. Por fim, pretendo oferecer alguns elementos que nos aproximem da resposta à questão: O que pode significar uma abordagem propriamente antropológica- isto é, etnograficamente orientada- do problema da produção de subjetividades?
Palavras-chave: Etnopsiquiatria, subjetivação, Tobie Nathan

De quais direitos estamos falando? a legitimação das demandas por direitos de pessoas transexuais
Lucas de Magalhães Freire [2º ano do Mestrado]

Resumo: Este trabalho traz uma análise das petições iniciais apresentadas por pessoas transexuais em seus pedidos de requalificação civil ao poder Judiciário. Os dados aqui discutidos são oriundos do trabalho de campo – em andamento – realizado no Núcleo de Defesa da Diversidade Sexual e Direitos Homoafetivos (NUDIVERSIS) da Defensoria Pública do Estado do Rio de Janeiro e fazem parte de minha pesquisa para conclusão do Mestrado. A leitura destes registros revela que existe uma tensão entre distintas formas concretas que os ideais dos direitos humanos assumem nestas peças processuais: o direito à saúde, os direitos sexuais e a dignidade da pessoa humana. Busco então discutir o modo pelo qual as demandas por direitos de pessoas transexuais são legitimadas pelos operadores do Direito, bem como os usos estratégicos destes diferentes discursos.
Palavras-chave: Direitos Humanos; Transexualidade; Poder Judiciário

Trepanações modernas: Nise da Silveira e a construção do corpo e da pessoa na psiquiatria brasileira
Felipe Magaldi [1º ano do Doutorado]

Resumo: Nas primeiras décadas do século XX, a psiquiatria brasileira foi caracterizada por controversos métodos de tratamento, tais como a eletroconvulsoterapia, a  lobotomia e o coma insulínico. Em 1946, a médica alagoana Nise da Silveira ocupou a linha de frente na crítica a esse modelo assistencial, sobretudo a partir da criação de um ateliê criativo no Setor de Terapia Ocupacional do antigo Centro Psiquiátrico Nacional, localizado no bairro do Engenho de Dentro, no Rio de Janeiro. Com base na psicologia analítica, atividades expressivas como pintura e modelagem foram então acionadas como mecanismos de cura. Este trabalho tratará de examinar alguns fundamentos da proposta terapêutica de Nise da Silveira a partir de fontes documentais e de uma experiência etnográfica em sua oficina de criação. Sustenta-se que seu pensamento apresenta uma terceira via às duas concepções ontológicas prevalecentes na ciência moderna: 1) dualismo (separação radical entre matéria e espírito) e 2) monismo fisicalista, em sua versão reducionista, correspondendo ao que se poderia chamar de 3) um monismo “vitalista”, que concebe uma unidade entre mente e natureza e uma afirmação da pulsão criadora imanente aos entes do cosmos.
Palavras-chave: Corpo, Pessoa, Ciência